segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Protetora Real


Imagem relacionadaEstou em um lugar escuro e sujo, provavelmente um antigo porão da cidade velha, esperando por socorro, mas provavelmente vou encontrar minha morte apenas. Mas estou feliz,sim eu provavelmente vou morrer aqui, mas eu cumpri minha missão, o príncipe esta a salvo e logo será coroado.

Tudo começou com a guerra...

Eu tinha doze anos quando a guerra explodiu, sabendo que muito em breve, com 16 anos, eu teria que me juntar ao exercito meu pai levou a mim e meus irmão mais novos para treinarmos, apesar de que Myo e Thor nunca participariam sequer de uma batalha.

Durante os 4 anos seguinte nós treinamos, eu especificamente, me tornei mestre em toda e qualquer arma e estilo de luta, eu era capaz de derrubar meus irmão e meu pai em menos de dez segundos. Mas então eu fiz 16 anos e como manda a lei tive que ir para a Capital ficar a disposição do exercito real. 

Estranho não é que a única moça da família tenha que ir para a guerra enquanto seus irmãos homens ficam em casa em segurança. Mas aqui onde eu nasci não tem essa diferenciação de gênero, aqui o que conta é a ordem de nascimento. 

Aqui o filho primogênito tem que ser posto em disposição para a coroa em caso de guerra. Ninguém lembra de onde surgiu essa lei, mas esta tão cravada na memória de todos que ninguém tenta ir contra.

Quer dizer, algumas mulheres e moças vão as ruas e fazem petições para que suas primogênitas não precisem ir para a guerra, mas eu, diferentemente delas, nunca imaginei minha vida que não fosse como soldado.

Faz um ano que fui convocada, neste meio tempo já estive várias vezes em batalha, já que com meu treinamento fui mandada direto para um pelotão e não passei pelo ano de treinamento que geralmente os novatos recebem. 

Logo na minha primeira batalha eu praticamente entrei em choque. Uma coisa é você imaginar a luta,outra  é você vivê-la na pele. Com os corpos sendo despedaçados a seu redor, ou você mata ou você morre. Obviamente eu escolhi matar, caso contrário não estaria aqui escrevendo.

Sempre fui um bom soldado, cumpria as ordens mesmo que não concordasse com as mesmas, ali eu era apenas uma maquina de matar, todos éramos e o General havia deixado isso claro logo no primeiro dia.

No dia em que tudo mudou eu estava na escola, sim escola, pois quando não estávamos em batalha ou nos treinamentos, nós íamos a escola, mas enfim, alguém bateu na porta da sala onde estávamos, o professor atendeu e logo depois me chamou, sem entender nada eu segui o soldado que estava na porta. 

Ele me guiou para fora da escola e pela cidade, eu não acreditei quando percebi que ele me levava direto ao palácio, não entendia o que o rei poderia querer comigo já que apenas quem era chamado pelo rei poderia entrar no Palácio. 

Segui o soldado por centenas de corredores, quando já não aguentava mais andar chegamos, a uma porta. Ele bateu  na mesma e aguardou, eu atrás dele apenas esperei. A porta se abriu e o soldado fez sinal para que eu entrasse, eu dei os ombros e entrei, a porta tornou a se fechar logo que por ela passei.

Se alguém tivesse contado a mim o que me aconteceria a partir dali, eu talvez não tivesse entrado, eu teria dado as costas, deixado a Palácio e voltado para a escola. 

Quem eu quero enganar? Eu teria entrado do mesmo jeito, nunca tive juízo ou instinto de auto proteção.

Segui por aquele corredor até que cheguei numa câmara, me surpreendi quando me encontrei perante ao Rei e a todos os seus Conselheiros.

O Rei me pediu um favor naquele dia, disse que apenas eu era capaz de fazer aquilo, que não confiaria em outro soldado para fazer aquilo. Ele implorou de joelhos que eu trouxesse seu filho a salvo para o lar.  O mesmo estava do outro lado do país, a salvo da guerra, mas o rei estava doente e queria passar a coroa para o filho antes de morrer para que nenhum golpista pudesse usurpar seu trono. 

Minha missão seria simples, eu iria até onde o príncipe estava visitando sua noiva e o guiaria através das montanhas até o palácio. Sim assim eu faço parecer fácil, mas não o era. 

Para fazer isso, eu precisaria atravessar todo um país em guerra, chegar até uma cidade fortemente protegida e tirar o príncipe de dentro dela, depois disso feito eu teria que o disfarçar também, e juntos cruzar uma cadeia de montanhas, cujos picos poderiam atingir até 1500 metros e então, se ainda estivéssemos vivos, passaríamos por um campo de batalha inimigo até onde nossos soldados estavam baseados e poderiam nos dar proteção.

Eu admito que fui idiota, mas aceitei o pedido do Rei.

Estranhamente as primeiras fases do plano saíram-se bem. Eu cruzei o país sozinha indo até onde estava o alvo e o tirei de lá, nem eu mesma sei como fiz este milagre, até mesmo no inicio  das montanhas conseguimos nos virar, mas quando chegamos a última parte das mesmas, as coisas se complicaram.

Estávamos preparados para enfrentar saqueadores, ladrões e todos os tipos de gente fora da lei que vivia nas montanhas, mas o que podíamos fazer quando encontramos um acampamento dos soldados inimigos bem na rota que precisávamos seguir? 

Eles patrulhavam a área, não tínhamos onde nos esconder, tivemos que pegar uma rota alternativa através da parte mais fechada da floresta, aí que as coisas complicaram de vez. 

Já faziam dois meses que viajávamos juntos, eu estava a cinco meses fora de casa, então eu e o Príncipe acabamos por criar uma amizade. Numa certa noite fria, decidimos ir contra o bom senso e acender uma fogueira a noite. Não foi uma boa ideia, fomos descobertos e tivemos que lutar e matar para sairmos   de lá, mas o estrago estava feito e passamos a ser perseguidos. 

Não tínhamos mais paz ou descanso, estávamos sempre em alerta e armas em punho. Conseguimos sair das montanhas e chegamos ao campo inimigo. Estávamos a apenas 2 horas de alcançar nossos soldados quando fomos avistados pelos inimigos, não poderíamos contra um batalhão, sendo assim mandei o Príncipe seguir o caminho que planejamos e fiquei para enfrentar os inimigos.

Era suicídio eu sabia, mas não havia me sacrificado tanto até aquele momento para fracassar. Consegui derrubar os oito soldados do grupo de buscas e dar assim a chance do príncipe escapar antes de os reforços chegarem e me prenderem.

Hoje faz três semanas que estou sendo mantida aqui neste lugar, nesta masmorra,eu queria que eles tivessem me matado no campo de batalha, mas não, eles me trouxeram para cá e a cada dia inventam uma nova tortura. Eu já não tenho dois dedos em uma mão, devo ter vários ossos quebrados,já perdi a conta de quantas vezes tentaram me afogar. 

Acho que eles perceberam que não vou falar nada, pois na última vez me entregaram junto a um pedaço velho de pão uma faca dizendo que se eu fosse corajosa eu poria um fim a minha vida, pois senão eles dariam. Mentiria se dissesse que não pensei em dar um fim a minhas torturas, mas não serei covarde a esse ponto.

Note que em momento algum eu disse meu nome, e isso se deve a duas coisas, primeiramente  se este papel não chegar até o mar não quero que ninguém saiba meu nome, não darei a eles este prazer, em segundo lugar meu nome não importa, apenas importa o que eu fiz.

Assim que terminar de escrever pretendo lançar esta garrafa no mar que bate na janela, muitas vezes molhando meu cativeiro. Já posso ouvir passos se aproximando, não sei se são os meus carrascos, ou se alguém veio em meu socorro, mas em todo caso, vou colocar este papel dentro de uma garrafa velha que venho guardando e lança- la ao mar. 

Não sei se sobreviverei, mas alguém tem que saber esta história, mesmo que pense que não passa de invenção. Não quero que minhas ações em prol do fim desta guerra caiam no esquecimento...
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Este é o conteúdo de uma garrafa que encontrei boiando no mar a algum tempo atrás, o papel estava todo amarelado mas as palavras estavam nítidas como se tivessem sido escritas ontem. Não sei o que ouve com  a pessoa que escreveu a carta, não sei nem mesmo se ela existiu, mas todas as vezes que a leio, eu me acalmo. Seja lá quem for, espero que a pessoa da carta tenha sido salva, mas se não foi, ainda sim a considero uma heroína, afinal ela foi uma Protetora Real.